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domingo, 21 de julho de 2013

QUEM FOI MÁRIO DE OLIVEIRA!


VIVA PENAFIEL DITOSO PAI QUE TAL FILHO DEU.


Falar de Mário de Oliveira, não formaria sentido se antes não lembrasse-mos Zeferino de Oliveira seu pai, nascido na Casa da Lapa, da freguesia de Croca a 4 de Fevereiro de 1870, filho de respeitáveis e honrados proprietários, emigrou para o Brasil aos 17 anos e enriqueceu tantos Portugueses… porém a fortuna (filha do trabalho e das privações) bafejou Zeferino de Oliveira.
Falar deste Homem, será falar de honestidade, lealdade, e particularmente solidariedade será falar de um homem de negócios que o reteve no Brasil, sem que permitisse que se falasse de medalhas, bandeiras, inaugurações ou condecorações.
Actualmente, várias são as opiniões destas ilustres personalidades através de mensagens, mails, bloguers e facebook de Arlindo onde foi possível actualizar e verificar como diz na COMISSÃO PRÓ-PENAFIEL e O PARQUE ZEFERINO DE OLIVEIRA», da actualidade e da questão das obras no Sameiro.
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“A Comissão que visava construir o parque em volta do Santuário, resultou da iniciativa do escritor penafidelense Ernesto de Melo e acabou por congregar as figuras mais visíveis da nossa burguesia mais bairrista e alguns dos penafidelenses mais ilustres daquele tempo espalhados pelo país e até residentes em solo brasileiro. Foi o caso do Coronel Nobre da Veiga, do comendador José Viana e do maior benemérito penafidelense do século XX, Zeferino de Oliveira.
Durante anos algumas dezenas de homens e mulheres criaram iniciativas dinamizadoras da vida citadina, com o intuito de granjearem meios com que foram pagando os salários dos trabalhadores que iam executando as obras ditadas pelo engenho dos mais cultos e capazes da dita comissão. Até que um dia Zeferino de Oliveira chamou a si os custos e alguma da direcção dos trabalhos, num exemplo de bairrismo que não encontrou paralelo, porque já existente em várias áreas, desde a assistência alimentar aos mais pobres, à saúde, à protecção social, ao ensino, cultura e tudo o que tivesse a ver com Penafiel e Portugal.
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Aquele parque é e vai continuar a ser, apesar do atentado, o exemplo do melhor de Penafiel, da sua gente, do seu espírito empreendedor, da razão pelo que um dos nossos, um dia, lhe chamou « A Melhor Terra do Mundo”.
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“Por seu lado o Bloguer alto do Sameiro, opina “Só por ter sido filho de um dos beneméritos de Penafiel, não justifica que o seu nome figure numa das artérias da zona antiga e nobre da cidade. Uma vez perguntei a alguém que trabalhava no Museu Municipal de Penafiel sobre Mário de Oliveira. A resposta foi breve e lacónica: “gastou a fortuna que seu pai lhe deixou”.
Apesar do filho de Zeferino de Oliveira, ter contribuído para a obra do altar do Santuário da Nossa Senhora da Piedade, penso não ser matéria de vulto para honrar com o seu nome um espaço que vai da rua do Carmo ao Largo dos Capuchos.
Há um nome muito parecido que em substituição iria para aquela rua: o de Maria de Oliveira. Esta senhora nasceu em Penafiel no dia 3 de Março de 1930 e fundou a Obra das Gaiatas, algo muito parecido com a obra do Padre Américo. Este virou-se para os rapazes e Maria de Oliveira recolhia raparigas abandonadas.
A 31 de Maio de 1947, esta senhora entrou para o Convento das Escravas do Sagrado Coração de Jesus, saindo duas vezes. Professou a 25 de Março de 1958 mas saiu definitivamente a 10 de Março 1963, para se dedicar às crianças desvalidas. Foi numa viagem por Trás-os-Montes para espairecer, instalando-se em Valpaços a 5 de Agosto de 1963 e aí recolheu as primeiras crianças. Em 1976, a Obra das Gaiatas já tinha a seu cargo cerca de 80 crianças. Maria de Oliveira, uma penafidelense a merecer um olhar mais atento pela Comissão Toponímica de Penafiel.”
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Opiniões são opiniões, no entanto o Jornal o “TEMPO 1931” e a “TOPONÍMIA PENAFIDELENSE” descrevem que apesar de Zeferino de Oliveira ter merecido com muito mérito todos os elogios, aí permaneceu e continuou com enormes contributos em prol do mais desfavorecidos até que a morte lhe sobreveio em Junho de 1929.
E é isso, sobretudo, que queremos ressaltar aqui, apoiando a homenagem do Governo Português a esse brasileiro digno, e rendendo o preito do nosso respeito e admiração a tão devotado e sincero amigo de Portugal e de Penafiel.
Desde muitos anos Zeferino de Oliveira subsidiava o hospital da misericórdia de Penafiel, onde, além do mais, instituiu ás suas exclusivas expensas, a sopa para os pobres, distribuída diariamente a 50 pessoas necessitadas.
Em Croca, freguesia do seu nascimento, dava uma casa para a Escola Pública e fornecia a esta todo o material escolar, favorecendo assim os alunos pobres, além de contribuir com uma mensalidade para a Junta de Freguesia, destinada a socorrer a pobreza local.
O que os portugueses do Brasil entretanto ignoraram de modo mais completo é o que ele fez em Portugal mais propriamente em Penafiel, continuando a obra patriótica e humanitária do pai, que foi um grande benemérito da sua terra.
Morto o grande benemérito, benemérito da sua pátria, à qual, entre muitos serviços legou a cadeira de Estudos Camonianos da Universidade de Lisboa, tinha-se como certo términos dessa obra de bondade, e a notícia causou dupla e profunda consternação a todos os penafidelenses, como encheu de pesar a todos os portugueses.
Logo depois verifica-se entretanto que só havia uma coisa a lamentar a perda do valoroso cidadão porque a obra por ele mantida seria continuada por seu filho. È de facto, assim foi. O Sr. Mário de Oliveira, sem alarde dando curso aos seus sentimentos de humanidade e rendendo culto por tão elevadíssima forma á memória do pai manteve e mantém todos os donativos e subvenções instituídos por Zeferino de Oliveira.
Nascido no Brasil Mário de Oliveira cumpriu escrupulosamente os desejos deixados pelo seu pai em testamento, no que respeita à criação de algumas obras e ao término de outras, prestando assim a sua homenagem ao seu pai.
Esta homenagem, que ousamos tributar aos maiores beneméritos, do nosso hospital, nos últimos tempos, não é mais que satisfação plena de todos os bons penafidelenses que de pioram a perda do Pai, mas exultaram pela sucessão de tão digno Filho transmissor emérito da sua grandiosa obra de assistência e de progresso. Por consequência dando-lhes as honras do editorial de hoje, com a fotogravura. Do homenageado, cremos haver contribuído com o máximo do nosso bairrismo, para o engrandecimento da nossa terra e daqueles que, por qualquer título, a prestigiaram. Eis o artigo:
«O amor a Portugal, que tão alto eleva a tradição e a nobreza do nosso povo, não é um sentimento exclusivo dos portugueses: prolonga-se, difunde-se e transmite-se através de seus filhos, herdeiros do nome, da crença, do carácter, da sensibilidade e do civismo dos pais. Amplia-se de geração em geração pelo mundo afora – ampliando na História e no tempo o próprio espírito da Raça.
São de todo o dia os factos. Filhos de Portugueses, nascidos em outras terras, cidadãos de outras Pátrias, nutrem por Portugal um profundo respeito, um amor sincero e arraigado, misto de admiração e simpatia, uma dedicação afectuosa, um carinho positivo filial. E a nossa pátria, por vezes se vivifica, e resplandece, ao calor desse sentimento nobre fraterno e amigo.
No Brasil, pela própria importância da nossa emigração, pelos imperativos de ordem social, pelo deteriorismo histórico, pela existência de uma língua e de uma raça comuns, o fenómeno desenvolveu-se tomando foros de regra geral. Bons brasileiros, amantes da sua pátria, os filhos de portugueses, salvo excepções inconfiguráveis, são também os amigos de Portugal, sentindo connosco os anseios, as alegrias, os exaltamentos e as tristezas da terra distantes o que é, incontestavelmente, motivo de intenso jubilo e continua satisfação para nós.
E, neste momento, é-nos particularmente grato citar aqui um grande exemplo o nome de um brasileiro que deve ser estimado e querido pelos portugueses. Como a continuação do próprio nome de seu pai.
Referimo-nos ao Sr. Mário de Oliveira, filho inesquecível Português que foi Zeferino de Oliveira, e moço de virtudes invulgares, inteligência nova do Brasil novo, industrial oneroso e culto, alma bem formada, cidadão brasileiro que ama tanto a terra de seu pai amou a terra de seus filhos, onde conquistou renome, admiração e fortuna.
O Governo português acaba de tomar a iniciativa de condecorar o Sr. Mário de Oliveira com a Comenda da ordem Militar de Cristo. O momento é, portanto oportuno para a divulgação de certos factos que os portugueses desconhecem, em parte pelo menos, factos que o elevam cada vez mais na nossa admiração, elevando e divinizando nos nossos pensamentos o culto pala memória de seu pai.
São conhecidos já diversos actos de filantropia praticados por esse moço ilustre, a quem afortuna não envaidece nem transforma a nobreza do carácter. Muitos outros porem permanece e permanecerão para sempre no nosso desconhecimento, porque assim determina a dignidade dos seus sentimentos profundamente humanitários, sinceramente cristãs, a sua mentalidade, formada na escola do pai, que foi a escola da vida.
Há pouco mais de dois anos passados deu duzentos contos de reis para a fundação, nesta capital do sanitário Zeferino de Oliveira, que é a beneficência Portuguesa para os tuberculosos...».
Dentro do programa regionalista e sobretudo, entusiastas sinceros, pelo progresso da nossa terra, gostosamente queremos associarmos às postas considerações que de além-mar, nos são transmitidas por intermédio do “ Diário Português”, acerca do rasgo de benemerência do saudoso Zeferino de Oliveira, para com Penafiel, sua terra Natal – gesto esse felizmente continuado por seu ilustre filho Mário de Oliveira, já agora, figura de maior destaque no nosso meio social.
E por que o Sr. Mário de Oliveira conquanto brasileiro de nascença tão espontaneamente manteve a obra de seu pai, como ainda a ampliou de seu moto-próprio, com promessa de continuar, a ser o seu fiel intérprete, vamos transcrever o belo artigo que, sob a epigrafe: BRASILEIROS AMIGOS DE PORTUGAL, publica aquele importante jornal do rio de Janeiro, em data de 10 de Outubro de corrente ano.
Salienta-se entre beneficências de Mário de Oliveira custear o altar do santuário da nossa Senhora da Piedade e a cantina escolar de Croca, apesar de aceitar de boa vontade a atribuição do seu nome.
Nestes últimos quatro anos, essas contribuições somavam avultadas quantias, como prova de boa vontade com que estava e está concorrendo para auxiliar a pobreza daquela terra Duriense, o juvenil industrial teve ainda há pouco um gesto bastante significativo. Sabendo que havia uma subscrição aberta para a construção de um pavilhão para moléstias infecciosas, no hospital da Misericórdia de Penafiel, mandou encerra-la e prontificou-se a entrar, como entrou, com a importância que faltava para a execução da Obra.
A não ser o próprio Zeferino de Oliveira, filho algum de Penafiel se poderá igualar ao Sr. Mário de Oliveira na generosidade demonstrada para com a terra de um saudoso pai razão porque ainda há pouca nas grandes festas promovidas pelo hospital da Misericórdia de Penafiel, em homenagem a Zeferino de Oliveira, o seu nome foi também alvo de altas manifestações e homenagens. Nos jardins fronteiros ao hospital foi inaugurado o busto de Zeferino de Oliveira, sendo a solenidade presidida pelo capitão Arrochela Lobo, Presidente da Câmara Municipal de Penafiel. E no salão nobre da humanitária instituição foram colocados os retratos a óleo do grande benemérito e de seu filho, sendo pronunciados diversos discursos de elogios e agradecimentos aos benefícios prestados ao hospital e á pobreza infantil.
Por isso o acto do Governo português, tomando a iniciativa de condecorar ao Sr. Mário de Oliveira com a comenda da Ordem Militar de Cristo, reveste-se de inteira justiça.
E por isso também damos realce a esta nota, afim de que se tornem conhecidos s sentimentos de amizade do ilustre brasileiro, pelo nosso povo e os benefícios que tem prestado a Portugal, benefícios e sentimentos que o tornam credor da estima e da gratidão de todos os Portugueses
E porque foi para dar cumprimento à vontade do pai, que se deslocou algumas vezes a Penafiel, como aconteceu a 12 de Outubro de 1934 em que juntamente com a sua esposa visitaram a cidade pela primeira vez após a morte de seu pai Zeferino de Oliveira.
Recebidos com grandes aclamações, foram conduzidos à Câmara Municipal de Penafiel para lhe ser entregue o diploma de Cidadão Honorário e após esta cerimónia dirigiram-se para a rua do hospital para o descerramento da placa com o seu nome.
Esta rua situa-se entre a Rua do Carmo e o Largo Santo António dos Capuchos.
Posteriormente, dirigiram-se para o edifício do hospital da Misericórdia onde decorreu o lançamento da primeira pedra para a construção do Pavilhão do Isolamento, cuja obra o seu pai contribuía com donativos.
Um agradecimento especial a Fernando Oliveira pela pesquisa efectuada nos jornais da época jornal "O Tempo" e que permitiu que este trabalho fosse elaborado. 
Obrigado amigo!

Biografia:
Diário Português
Sousa António Gomes de
Coelho Manuel Ferreira
Moreira Beça
Arlindo António
Pesquisa Oliveira Fernando 
Trabalho Meireles Reinaldo

 
Novelas, 21 de Julho de 2013;
 
Saiba mais sobre Zeferino de Oliveira

 


domingo, 14 de julho de 2013

GENERAL HUMBERTO DELGADO!


O GENERAL  HUMBERTO DELGADO EM PENAFIEL





O golpe de 28 de Maio de 1926, chefiado desde Braga pelo General Costa Gomes, triunfa em Lisboa a 6 de Junho do mesmo ano, pondo termo à Primeira República, impondo uma ditadura militar, que vai dar origem ao Estado Novo.



Américo Tomás candidato do regime.

Este regime sofre o primeiro abalo digno desse nome, nas eleições realizadas em 1958, para a Presidência da República, sendo o candidato do regime o Almirante Américo Tomás, e o da oposição o General Humberto Delgado, que conseguiu unir na sua candidatura todas as forças oposicionistas ao regime, incluindo os comunistas com a desistência do seu candidato Dr. Arlindo Vicente a favor do General.


Humberto Delgado no Café Chave de Ouro em Lisboa

A 10 de Maio de 1958, no primeiro acto público no Café Chave de Ouro, em Lisboa, Humberto Delgado responde à pergunta feita por um jornalista da France Press:


- Qual a sua atitude para com o Sr. Presidente do Conselho (Dr. Oliveira Salazar), se for eleito? 
A resposta foi imediata, enérgica, sem hesitação ou temor:
Obviamente, demito-o”.
Devido a esta resposta, ganha o cognome de “General sem Medo”.



 
Humberto Delgado no Porto
Vindo de comboio até ao Porto, no dia 14 de Maio, onde o esperava um mar de gente (200.000 pessoas), para fazer o seu primeiro comício da sua campanha. Foi de tal maneira recebido que declarou que “o meu coração ficará no Porto”. 



Humberto Delgado em Paço de Sousa nos Gaiatos, com o Dr. Rodrigo de Abreu junto ao General.

A campanha prossegue, e a 15 de Maio, visita Penafiel, acompanhado pelo penafidelense Dr. Rodrigo de Abreu, um dos principais apoiantes do General, chegando a emprestar o seu próprio carro para Humberto Delgado visitar várias localidades do Norte do país.


Humberto Delgado diante da campa do Padre Américo em Paço de Sousa.



Entrando no concelho por Paço de Sousa, onde vai visitar a Casa dos Gaiatos, e presta homenagem a Padre Américo diante da campa onde repousavam os restos mortais do fundador desta instituição.


Humberto Delgado em Penafiel



Depois, rumou ao centro da cidade de Penafiel, onde centenas de apoiantes o aguardavam.


Impossibilitado de falar da varanda do município, subiu para o tejadilho de um carro e falou para a multidão que o rodeava.


Depondo um ramo de flores, aos mortos da Grande Guerra



No final foi-lhe oferecido um ramo de flores, o qual foi colocado no monumento aos mortos da Grande Guerra. Todas estas andanças, foram registadas pela câmara fotográfica, do penafidelense Antony Guimarães.


Anúncio publicado no jornal local "O Tempo".



Apesar da manipulação total dos resultados eleitorais, no concelho de Penafiel, o General vence as eleições na freguesia de Novelas, e perde por pouco na de Paço de Sousa. 


Humberto Delgado exercendo o seu direito de voto.



Os resultados oficiais das eleições no distrito do Porto


                             União Nacional        Oposição
   Amarante                       3.035                    1.217
   Baião                             1.864                       306
   Felgueiras                     2.657                       815
   Gondomar                    4.849                     2.147
  Lousada                        1.546                         539
  Maia                              1.972                      1.305
  Marco de Canavezes    3.442                         394
  Matosinhos                   3.652                     2.982
  Paços de Ferreira         1.800                         788
  Paredes                         3.189                      1.220
  Penafiel                        3.729                      1.011
  Porto                          18.302                      8.865
  Póvoa do Varzim         2.650                      1.260
  Santo Tirso                  4.357                      3.049
  Valongo                       1.439                         570
  Vila do Conde             3.632                      1.515
  Vila Nova de Gaia       6.979                     7.760


O único concelho em que o General Humberto Delgado ganha, no Distrito do Porto, é em Vila Nova de Gaia.


Levado em ombros


  No rescaldo das eleições, o Governador Civil do Porto, Dr. Elísio de Oliveira Alves Pimenta, envia uma circular a todos os Presidentes de Câmara para estes se pronunciarem sobre os resultados eleitorais no seu concelho.



Governo Civil do Porto
GOVERNO CIVIL DO PORTO

Circular nº M-7/2


Porto, 17 de Junho de 1958



Exmº Senhor

Presidente da Câmara Municipal de…..

Rogo a Vª Excª se digne elaborar e enviar-me um relatório, tanto quanto possível circunstanciado da forma como decorreu a eleição presidencial nesse concelho, por freguesias e assembleias, especificadamente, informando das causas de ordem geral ou local que, porventura, tenham influído nos resultados.


 

Presidente da Câmara de Penafiel, Dr. Francisco da Silva Mendes.

CONCELHO DE PENAFIEL

Informação sobre o acto eleitoral



Foi este concelho, como quase todos, surpreendido por uma vaga de hostilidade tão inesperada e falta de lógica que, sem dúvida, será erro minimizar o facto e sepultá-lo sob o entusiasmo e a tranquilidade da vitória.


Bem-haja, pois, o Governo em pretender, sem tardança inquirir sobre os factores que poderão ter determinado esta espantosa e dupla anomalia: - um país em pleno, vigoroso e patente ressurgimento e que se não mostra unânime em conhecê-lo e reconhecê-lo; por outro lado um país que, em larguíssima extensão, por isto ou por aquilo, se mostra clamorosamente insatisfeito e que todavia apoia o Governo com uma maioria de 75% dos seus votos, caso único, supomos, no mundo das democracias.


Sem dúvida o infundado do descontentamento por um lado e a atitude eleitoral dos descontentes por outro, constituem um problema que merece ser seriamente considerado.


Prestamos o nosso depoimento com séria preocupação de ser objectivos e sobretudo leais.


I

Presumíveis factores de descontentamento



1º É um factor psicológico.



Parece-nos errado supor que a reacção anti-demagógica de 28 de Maio significava um repúdio geral e definitivo dos velhos hábitos liberais e democráticos, tão enraízados nos povos latinos daquém e dalém Atlântico e viáveis melhor ou pior na maioria das Nações. Se significasse trinta anos de governação sábia honesta e feliz e de doutrinação paralela intensificada por todos os meios teriam eliminado todos os vestígios dos velhos hábitos e a eleição recente não defrontaria com as dificuldades que teve de vencer.


Verifica-se que permanece um apego mais ou menos acentuado aos princípios demoliberais mesmo naqueles que nem por isso deixaram de votar, ainda desta vez, na situação vigente. Para muitos dos nossos a persistência da censura à imprensa, a ausência duma representação das minorias discordantes na Assembleia Nacional, certos aspectos do intervencionismo do Estado no domínio económico, são outros tantos motivos de reparo e desafeição pelo regime.


Será impossível vir ao encontro destes reparos sem comprometer a estrutura essencial e a estabilidade do regime? Antes não fosse.



2º Este factor é de ordem moral.


O contacto directo e pessoal com os eleitores acabou de nos mostrar a aflitiva falta de civismo duma grande massa eleitoral. A solicitude pelo Bem Comum é sufocada pela pressão do caso individual ou local. Confrange contar o número de votos que se negam ou apresentam difíceis só porque se pagou uma multa, ou porque se não obteve certo emprego, ou porque está intransitável um caminho, ou porque o fontanário secou na estiagem, ou porque a electricidade ainda não chegou a certo lugar, ou por muitas outras razões do mesmo teor.


Quando ripostamos com os grandiosos empreendimentos do estado, ficam indiferentes.


Não lhes interessava. O que conta é o seu caso pessoal e local.


Tal atitude de espírito é lamentável. Mas existe e ameaça persistir e agravar-se. Ora se para o caso pessoal a solução é impossível, porque só se encontraria no regresso a uma “politiquice” indecorosa, o mesmo não acontece para o caso local. Este é afinal uma parcela do Bem Comum.


E pensamos então se a preocupação do monumental e do grandioso não estará sacrificando as modestas necessidades e pretensões das localidades rurais onde labuta ingratamente e sofre a gente mais sã do país.



3º Este factor é de ordem económica.


O corporativismo não conseguiu ainda captar a simpatia das classes. É mal conhecido na sua orgânica e, porque imposto de cima, aceite com relutância.


A presunção de que “iam acabar os grémios” suscitou em certos meios um entusiasmo significativo e deu, presumimos, à oposição farto contingente de votos.


Nova anomalia se verifica: foi justamente nas classes mais favorecidas pela organização corporativa, que se encontrou a maior oposição. Confronte-se a atitude dos meios provincianos e rurais com a dos meios industriais e operários. O facto apresenta-se enigmático e não se vê para fácil explicação nem remédio adequado.


Que o estudem os técnicos. Não seria desejável tornar mais eficaz a orgânica das Caixas de previdência e da assistência médico-social e mais patentes e desembaraçados os seus benefícios?



II

No panorama local



Factores de êxito.




Dos 4739 votantes do concelho de Penafiel votaram pelo Candidato Nacional 3728 e pelo candidato da oposição 1011, ou seja 23% apenas. Tal resultado que, em absoluto e por confronto, pode considerar-se muito bom, deveu-se a factores diversos que convém apontar e discriminar, porque, se uns são de carácter permanente e devem persistir, outros foram ocasionais e podem não se repetir do futuro.

Entre as primeiras anotamos:



a) A índole sã da gente do concelho, cristã e conservadora, ávida sobretudo de paz e sossego, receosa de aventuras perigosas e de saltos para o desconhecido.

O seu estado de espírito traduzia-se em prestações como estas: “O que nós queremos é trabalhar em paz”, “Mais vale o pouco certo que o muito duvidoso”; "para melhor ninguém muda”; ou ainda uns mais cépticos, “mal por mal antes o que está”.



b) A actuação directa e pessoal de elementos prestigiosos da União Nacional, onde os havia, junto de cada eleitor.

Deve frisar-se que não temos notícia de que em parte alguma se tenha recorrido aos velhos processos do caciquismo: nem prosas enganosas, nem compromissos de favoritismo, nem ameaças de qualquer espécie, nem nada que se parecesse com mendicidade de voto.



c) Trabalho exaustivo dos elementos da União Nacional, acudindo de pronto, uma e mais vezes onde quer que se revelava uma actuação mais insistente dos adversários, ou melindres mesquinhos ameaçavam a unidade política dos nossos. Pode esperar-se que este factor persista se a União Nacional for prestigiada devidamente.

Entre os segundos anotemos:



a) A reacção do sentimento religioso alarmado pela irreligiosidade e ateísmo blasfemo do candidato oposicionista, logo que o facto se tornou público. E neste particular os párocos cumpriram nobre e corajosamente o dever que a sua consciência e suas responsabilidades lhes impunham.



b) O efeito, mais elucidativo que a melhor propaganda dos tumultos e desacatos produzidos em Lisboa e Porto e Braga, acumulando-se a muitas atitudes descompostas e suspeitas dos adversários. Não parecia que fossem os melhores; mas era manifesto que os piores estavam com eles.



c) O prestígio insuperável, e Deus queira que não insubstituível, de Salazar. O povo sentiu o choque emocional de o ver tratado com desdém por um homem que pretendendo medir-se com ele se inferiorizou irremediavelmente.



III

Na cidade e nas freguesias




Na cidade a votação manteve-se ao nível de 65% já verificado em eleições anteriores.


Em Novelas a oposição obteve uma pequena maioria, facto significativo, porque foi sem dúvida devido à acção dos ferroviários e de operários que trabalham no Porto e ainda de proprietários indiferentes ou hostis.


Em Paço de Sousa obtivemos uma maioria relativamente escassa. Ainda a influência de ferroviários e operários.


Em Boelhe, Vila Cova e S. Mamede mal atingimos um terço da votação, falta de elementos preponderantes da situação.


Nas restantes freguesias os resultados foram nitidamente bons e, em muitas, muito bons.


Seríamos francamente optimistas se tais resultados não tivessem exigido um esforço que pode não vir a repetir-se e se não víssemos o concelho muito desalentado pela falta de ajuda, por parte do Estado, em obras e iniciativas de extrema necessidade e urgência.



Penafiel, 13 de Junho de 1958




O Presidente da Câmara Municipal

Dr. Francisco da Silva Mendes




Humberto Delgado na Praça Municipal em Penafiel



Curiosamente, a originalidade deste relatório reside nas críticas feitas ao Governo, sobretudo vindas do presidente da Câmara de um concelho onde a votação do candidato do regime melhorara entre 1949 e 1958, ou seja entre as eleições de Norton de Matos e Humberto Delgado.


Além disso, chama a atenção para questões importantes como o sentido democrático da população portuguesa, o sacrifício das questões e dos problemas locais em nome da realização de grandes obras nacionais, que pouco diziam à maioria da população, e a necessidade de tornar mais eficaz um incipiente sistema de segurança social.


A partir destas eleições, nada ficou como dantes. O império colonial, começa a desmoronar-se com a conquista dos territórios portugueses na Índia (Goa, Damão e Diu), pela União Indiana.


Entretanto, a guerra colonial rompe em três frentes no continente africano, Angola, Guiné e Moçambique.


O regime só vem a ser deposto com o Golpe Militar do 25 de Abril de 1974, pondo fim a 13 anos de guerra colonial, dando a independência a esses povos, e implementando um regime democrático pluralista no país.



Hoje, passados 39 anos, vemos que o regime “democrático” começa a mostrar as suas fragilidades, repetindo erros da primeira república, com os partidos a tornarem-se nuns verdadeiros centros de emprego e não locais de debate de ideais políticos para melhorar a vida do cidadão, o que não me admira nada, que qualquer dia também caia de podre, por falta de democratas. 


Um trabalho de Fernando Oliveira