Doutor António Nogueira Rocha Melo
Novelas
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Não esqueço, este desenlace era
esperado, mas nem isso diminuiu a brutal sensação de perda quando a noticia
chegou.
Faz no dia 30 de Abril de 2013 seis anos, que desapareceu de entre nós o Neurocirurgião Dr. António Nogueira Rocha Melo.
No seu funeral, eu e alguns
amigos representamos Novelas, recordamos o seu passado, reconhecemos a família,
os locais que frequentou, a sua aldeia, a sua cidade, o seu trabalho e sobretudo
a suas qualidades como Homem, como mestre e como investigador na medicina que o
tornou por dedicação e mérito próprio, no primeiro neurocirurgião do Porto e
dos primeiros do País.
Vou tentar abreviar apesar de
existir muito a descrever do Mestre Neurocirurgião Doutor Rocha Melo assim
conhecido:
Natural da freguesia de Novelas na Casa da
Tulha onde nasceu, este médico conforme já foi narrado por toda a sua equipe,
especializou-se em Neurocirurgia quando completou o seu estágio em Edimburgo na
Escócia em 1957 onde aprendeu as mais sofisticadas técnicas para operar o
cérebro humano dando inicio ao paradigma de uma maior esperança de vida.
O histórico dos alunos que com
ele trabalharam e que com ele conviveram durante aproximadamente 40 anos,
retrataram o princípio dos anos sessenta quando iniciaram a sua preparação no
serviço de Neurologia do Hospital de Santo António, sob a direcção do Dr.
Corino de Andrade, regressava nessa época o Dr. Rocha Melo da Escócia onde se
acabara de preparar como neurocirurgião, para a 13 de Janeiro de 1960 efectuar
a tão aguardada primeira operação de Neurocirurgia no Hospital de S. João, e
depois começar a operar também no Hospital de Santo António.
Finalmente podia o Dr. Corino
deixar de pedir e ajudar cirurgiões gerais a operarem os doentes cirúrgicos do
seu serviço, porque passara a ter na equipa um neurocirurgião preparado no
centro neurocirúrgico então considerado o melhor da Europa.
Mantendo sempre a sua ligação aos
mestres de Edimburgo, aberto a tudo que permitisse o desenvolvimento da
neurocirurgia em Portugal, estudioso e culto, o Dr. Rocha Melo rapidamente se
impôs no Hospital, no ambiente médico da cidade, granjeando um merecido
prestígio junto dos doentes, da cidade e dos seus pares, em Portugal no
estrangeiro.
É com melancolia, saudade e serena tristeza que nos lembraremos do Dr. Rocha Melo indissociável da família, do Dr. Rocha Melo da Fundação de Serralves, do Dr. Rocha Melo da Liga dos Amigos do Hospital de Santo António, do Dr. Rocha Melo da Sociedade Portuguesa de Neurocirurgia, do Dr. Rocha Melo na freguesia de Novelas sua terra natal, do Dr. Rocha Melo para quem o "veganine" era o seu remédio pessoal cura
tudo, o chá a bebida de sempre e uma omelete uma refeição pantagruélica.
Será para todos os seus amigos,
sempre, uma saudade e uma admiração a sua intuição clínica excepcional, a sua
forma suave e leve de operar, a sua abertura e estímulo ao progresso dos mais
jovens (todos nos lembramos do "se eu não estiver vão começando", que
significava "façam vocês que eu sei que já são capazes").
Interessado por muito mais do
que pela sua amada neurocirurgia, Rocha Melo representava bem a verdade daquela
frase de Abel Salazar que constituiu lema do Instituto de Ciências Bio-médicas
Abel Salazar (ICBAS) : "Médico que só sabe de medicina nem de Medicina
sabe".
Não foi por se entregar
intensamente à sua profissão, não foi pelo cansaço de horas e horas a operar
nem pelo esgotante trabalho a que a sua clínica o obrigava, que o Dr. Rocha
Melo sentiu alguma vez desejo de a mais nada se dedicar do que à sua família e
à sua profissão.
Pelo contrário, apesar do quotidiano pesado que era o seu, sempre se manteve interessado e alerta para tudo o que socialmente nos rodeava, afirmando a sua formação democrática no tempo da ditadura, participando na vida cultural da cidade, sendo durante vários anos presidente da Liga de Amigos do seu Hospital, ligando-se à Fundação
de Serralves, enfim, vivendo não só como médico de nomeada, mas também como
culto cidadão da sua cidade e do mundo.
É a lei da vida ou o que é o
mesmo a lei da morte.
Retratado pela equipa que com
ele conviveu com uma vivência de vida preenchida, deixou saudade e obra, deixou
discípulos e amigos, gratidão em centenas e lembrança constante nas gerações
que lhes seguiram.
Eu tive o privilégio de conhecer
melhor quando me observava, mas quem com ele conviveu mais de perto foi o meu
pai António da Silva Meireles, quando se tornaram sócios fundadores da
Associação dos Amigos Museu Municipal de Penafiel, da Associação Para o
Desenvolvimento da Freguesia de Novelas, e amigo do seu amigo em momentos decisivos,
sendo atribuído o seu nome a uma rua na freguesia de Novelas.
Mas o Dr. Rocha Melo foi muito
mais, em 1970 foi o nono defensor e Membro da Comissão Nacional de Socorro a
Presos Políticos, tendo contribuído para a libertação ou absolvição de pena de
mais de 400 presos no movimento judicial ou prisional anterior á revolução.
Foi medalhado no dia 24 de Abril
2007 pela Câmara do Porto, em reunião de Câmara de 4 de Maio de 2007 aprovado
um Voto de Pesar proposto pelo Sr. Presidente da Câmara de Penafiel e em 23 de
Maio de 2007 os amigos do museu municipal de Penafiel prestaram-lhe uma singela
homenagem.
E foi exactamente no último dia
primaveril de 2007 que partiu, foi esta a imortalidade possível que Rocha Melo
conquistou e que vai estar viva enquanto um de nós, da sua família, dos seus
doentes, do seu Hospital, dos seus discípulos, dos seus amigos, viver e se
lembrar, os restos mortais as cinzas de uma nova vida, encontram-se no túmulo
familiar do Cemitério de Novelas, deste dia 4 de Maio de 2007 na freguesia de
Novelas.
Foi este cidadão, este amigo e este
mestre, que a medicina portuguesa, o país, a cidade, e a freguesia de Novelas
perderam.
Não é difícil saber quem era!
Ser neurocirurgião de uma
maneira geral não tem heranças genéticas no entanto os valores e princípios
sim, ligam-nos para sempre socialmente como aconteceu em 1994 nesta Junta de
freguesia com seu sobrinho Rui Jorge Sousa da Rocha Melo, e eu ao contrário de
quem facilmente faz por esquecer, porque não se interessa por ler ou escrever
ou até porque não o sabe fazer, aprofundo o conhecimento de Homens ou Mulheres
com um “H” ou um “M” maiúsculo, para que permaneçam vivos na memória dos
Novelenses.
No entanto outros há, que
facilmente arrumam a história da freguesia, de quem até a morte de alguns se
torna um caminho mais fácil para outros, e se borrifam para o que se diz.
Honrando os princípios, marcando a diferença, não deixando que a memória se apague, aqui fica o meu
registo para que o passado não safe Homens que fizeram parte de gente de grande
valor naturais da freguesia de Novelas – Pnf.
Novelas 27 de Abril de 2013
Rfbmeireles.